“Jaime bunda, agente secreto” até
agora é o melhor livro que já li este ano. Digo até agora, pois ainda falta
muito para o ano terminar, mas sinceramente eu não estou a ver outro livro (dos
que eu tenho) ser melhor que “Jaime bunda, agente secreto”. Há 15 anos atrás
lembro-me que tinha comprado vários livros de escritores africanos e penso que
Pepetela estava incluído entre eles, porém não me lembro se cheguei a ler algum
livro desse maravilhoso escritor, se eu tivesse com certeza recordaria, pois
Pepetela é um escritor a repetir. “Jaime bunda, agente secreto” é um livro
engraçado de coisas sérias, o que mais me chamou atenção no livro foi o seu título, pois com um título destes tinha que o ler. Eu gosto quando os escritores usam o
humor para criticar, pois se não pudermos chorar ao menos podemos rir da nossa desgraça.
Plot: Jaime Bunda é um estagiário
dos SIG (serviços secretos angolanos) que é chamado para investigar a morte de
uma “quatorzinha” de um bairro pobre de Angola. Este será o seu primeiro caso, por
isso tenta a todo o custo causar uma certa impressão ao seu chefe, que tem uma
certa dúvida da inteligência do agente. Mas o que começa por ser um caso de homicídio,
acaba por tornar-se numa investigação criminosa importantíssima, do mais alto
gabarito, com riscos enormes para a economia do país. Entre casos e acasos, o
nosso agente a lá James Bond consegue se envolver em situações ainda mais
perigosas e conspirações envolvendo pessoas de certa importância do governo.
Apesar de a estória centrar em Jaime
Bunda, este não será o único a desempenhar um papel importante, pois além dele,
temos outras personagens como o temível e sinistro individuo conhecido pelo nome
de T, a bela e sedutora odaliscas das arábias, a Malika, o D.O responsável pela
contratação do parente (Jaime Bunda), o Armandinho, que tinha certa fascinação
pela bunda avantajada do nosso querido Jaime Bunda (daí advém o nome), ou mesmo
a linguaruda tia Sãozinha. Através destas e outras personagens, Pepetela nos dá
a conhecer a Angola, Angola com a sua pobreza, as suas riquezas de diamantes, as
suas mulatas, superstições e principalmente a sua corrupção. Pepetela consegue com
maestria denunciar a sociedade angolana com tanta ironia que nos é impossível não
rir das situações bizarras e ridículas que nos é apresentada.
A escrita como já disse é irónica,
jocosa, satírica, caricata e dinâmica. O escritor repreende o narrador, tem um aparte
connosco, nós os leitores, troca de narrador no meio do livro para depois voltar
com um narrador semelhante ao primeiro. Mas toda esta troca de narradores tem
um propósito e é explicada pelo escritor, como mais à frente nos dá a conhecer.
Não quero entrar muito na estória
para não dar spoiler, mas Jaime Bunda será uma das personagens a recordar,
tanto pelo seu apetite acima do normal ou pelo seu ar de “armar-se em chefe”,
que fará muitos a rir. Depois deste livro, fiquei com uma vontade enorme de ler
a sequela “ Jaime Bunda e a morte do americano”. Despois deste livro, sem
sombra de dúvida Pepetela entrou para o “roll” dos meus escritores favoritos.
Aguardando agora para ler: “Jaime Bunda e a morte do Americano”:
"Então não havia o Afeganistão, a Somália, o Irão ou a Colômbia,
países ideais para um americano morrer de morte matada, sem levantar muitas
comoções nem pasmos, pois eram territórios já habituados a serem tratados de
promotores e antros de horripilantes anti americanismos? Aí tanto fazia, mais
um menos um, não provocava qualquer crise mundial. Porque iria logo escolher a
pacífica Benguela, onde, de memória de gente, nunca nenhum americano tinha
morrido, nem mesmo quando os ianques andaram a apoiar, abertamente ou de
caxexe, os famigerados terroristas, linguagem oficial de um dos lados, lídimos
e heróicos defensores da democracia no dizer do outro lado? Mas foi isso que
aconteceu, o engenheiro gringo bateu subitamente a caçoleta na pachorrenta
cidade das acácias rubras, para grande tristeza e preocupação dos governantes,
locais e nacionais, e perante a indiferença da maioria da população, ocupada na
legítima e cada vez mais problemática azáfama de sobreviver."
Nota: 10/10
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