Esta semana tem sido de loucos.
Estou quase sem tempo nenhum para escrever aqui no blog. Tenho visto muito
filmes e estou a aproveitar o máximo destas duas semanas do Indie Lisboa. Mas
apesar da escassez do tempo, queria falar-vos sobre o filme que mais gostei até
agora do festival, um filme brasileiro: Domésticas. Queria falar deste filme
enquanto estiver fresco na minha mente, para poder-vos transmitir tudo o que
achei do filme. Tenho algumas críticas a fazer se bem que não chega a ser
críticas, apenas algumas observações e penso que muitos irão concordar comigo.
Soube através da produtora, durante a apresentação, que o filme vai estrear a 1
de Maio (dia dos trabalhadores) nos cinemas do Brasil, então fica a dica (para
o pessoal do Brasil) para conferirem este belo filme/documentário.
Apesar de ter mais ou menos uma
ideia, que o Brasil tinha muitos trabalhadores como empregadas domesticas eu
não sabia que 15 % das empregas domésticas do mundo são do Brasil, uma
percentagem bastante representativa. E não percebo como que estes trabalhadores
têm menos direitos que outro trabalhador qualquer, sendo em um número bastante expressivo.
Mas deixando esta parte da lei de lado, vou começar a falar do filme.
Bem como todos já devem saber ou
vão a ficar a saber, o filme trata-se de um documentário sobre as empregadas
domésticas. O projecto trata-se de filmar o dia-a-dia de sete empregadas
domésticas sob a direcção dos adolescentes/crianças que moram no seio familiar.
Achei a ideia bastante gira, pois são os adolescentes a filmar os momentos mais
íntimos das suas empregadas domésticas, se fosse o realizador as filmagens não
seriam as mesmas, pois o desconforto perante às camaras seria maior. São sete
histórias no qual somos conduzidos a conhecer a intimidades delas e
simultaneamente o núcleo familiar e a relação patrão-empregado. E foi interessante
conhecer histórias destas pessoas que lavam, passam, cozinham mas as vezes nem
nos dignamos de saber mais sobre elas.
Ficou bem claro, pelo menos a mim
trespassou esta ideia, que algumas destas domésticas não sentiam à vontade no
núcleo familiar por mais que as patroas quisessem passar uma ideia contrária perante
as camaras. Uma observação que tenho a fazer, mas penso que o director não teve
muita responsabilidade sobre este aspecto, é que os adolescentes muitas vezes
perderam-se no rumo das histórias e esqueceram que eles e os pais deles, não
eram o centro e o alvo do documentário e faltou um pouco de ver as perspectivas
das empregadas. Foi um pouco falso da parte das patroas, quererem passar a
ideia que elas consideravam as empregadas como família, pois dava para notar,
principalmente no caso da Helena, que as coisas não eram assim tão cor-de-rosa.
Não sei se foi a timidez perante as câmaras mas deu-me a sensação que ela
sentia um pouco enclausurada. Das sete histórias, os que eu mais gostei foram
das domésticas Dilma, Gracinha e da Flávia, pois elas se abriram perante nós,
deu-nos oportunidade de conhece-las e estiveram muita à vontade (o que faltou
nos outros). Uns mostraram pouco delas e outras mais do que devia,
principalmente no caso da Gracinha, ela foi muita espontânea e credível, ri
muito com ela. Outro aspecto que foi interessante é a parte do empregado
doméstico Sérgio Oliveira, pois contradiz o estereótipo que temos, que a
profissão de domésticas é somente para as mulheres. E também gostei muito da
história da Flávia que era empregada doméstica de outra emprega doméstica.
Doméstica fez-me rir e emocionar
ao conhecer histórias destas pessoas que abdicam da sua própria família para
cuidar da família dos outros e não são reconhecidas pelo seu trabalho. Deixo-vos
então a recomendação de ver este belo documentário e deixar-vos questionar
sobre o quanto conhecem estas pessoas que partilham o mesmo tecto e limpam o
vosso lar.
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